E você não me conhece, eu não conheço você.
Te escrevo por absoluta necessidade. Não conseguiria dormir outra vez se não te escrevesse.

Caio F.

O blues já valeu a pena.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Eu não quero ser uma pessoa triste.

Não quero me isolar mas ao mesmo tempo quero, as pessoas não são confiáveis e são cruéis. Todos. Eu.

Minha irmã morreu, 15 anos, 2009, por muito tempo tentei evitar pensar nela e falar o nome dela, Amanda.
Nas ultimas semanas penso nela todos os dias, o tempo todo, me isolo, não enfrento, não consigo. Simplesmente não consigo mais.

Quero perder a memória pra valer e ao mesmo tempo voltar no tempo e ficar la pra sempre.
Quero ver ela agora, quero ouvir ela agora. Necessito da tua presença.
Necessito mais do que qualquer coisa falar e escutar.
Não falar pra qualquer coisa, tem que ser pra você exatamente você e que esse jogo acabe logo e tudo volte e tu volte porque eu to pirando.

To pirando completamente sem saber o que fazer ou falar e a vontade de entrar em um sono profundo é enorme e a vontade de correr e sumir e a vontade de te encontrar me mata. Tudo me mata e tudo me mata e eu odeio esperar.
Durmo e sonho contigo e acordo esperando o tempo passar e os anos passarem e vai chegar o dia que vou abrir a porta do quarto e tu vai estar sentada no sofá da sala escolhendo uma música da Britney, vai levantar e dançar como a melhor bailarina do mundo que é o que tu é.
A melhor em tudo e o melhor sorriso e a melhor voz e eu não falei isso quando podia mas agora sinto tua falta e sinto raiva por tudo o que fiz e as brigas que comecei e as besteiras que fiz e falei.

Tu vai girar e tropeçar no sofá, cair e rir. 
Tu vai cantar e cantar a madrugada inteira e acordar meio dia reclamando que está com sono enquanto eu me gabo por acordar cedo.
O que não faço mais.
Deixei de fazer muitas coisas por medo de ter lembranças e agora apenas lembro e choro.
Nunca vou ser feliz como tu, nunca vou saber o verdadeiro sentido disso e esse vazio não é preenchido por nada.
Quero te proteger mesmo sabendo que tu não está aqui e quero te escrever cartas mesmo sabendo que não vais ler do meu lado.

Talvez tu esteja em pé agora, ali.
Talvez tu esteja flutuando como um anjo atrás de mim e lendo essas palavras e por isso estou escrevendo o que penso pra talvez haver uma pequena chance, por menor que seja, de tu estar aqui. Agora.
Agora.
Agora.
Aparece, fala comigo. 
Lê.
Não me deixa.
Me faz parar de chorar.

Amanda.
Amanda Karen Antunes.

Menor que eu, cabelo cacheado, lindos cachinhos curtos com um rabinho de porco na testa, enroladinho. Dois.
Letra de médico mais ilegível do mundo e o melhor desenho do mundo, ninguém desenha como tu.
Distraída, sensível, doce, tudo.

Não quero deixar pensar que penso que a minha dor é a única pior do mundo porque não é, é a pior dor pra mim. É a pior coisa que eu pude viver e sentir e sinto. Não da pra explicar com palavras exatamente.

Não da pra te apagar da memória, não é possível e se um dia acontecer eu vou lembrar. Não vai acontecer. O tempo não volta e isso é uma droga.

UMA GRANDE DROGA DO CARALHO.

Minha regra de falar palavrão, acho que acabou.

acabou.

vou me fechar por uns dias, uns tempos.

E